domingo, 23 de maio de 2010

Por entre as nuvens...

Essa curta, porém longa, história começa de forma intrigante. Havia um menino, que toda noite olhava para o céu. Das milhões e milhões de estrelas cintilantes, uma se destacava. Ela brilhava de uma forma diferente...

E todo dia, ele repetia seu ritual. Saía de casa e ficava horas e horas deitado na grama, observando o céu, sempre atento para saber se SUA estrela estaria lá, brilhando como sempre. E ela sempre estava. Mesmo nos dias em que o Céu chorava. Mesmo nos dias em que o Céu não tinha os seus floquinhos de algodão doce. Lá estava ela brilhando e ele observando.

Um belo dia, em sua observação, o menino viu que aquela estrela não era uma estrela. Era um anjinho. Ele tinha os cabelos longos esvoaçantes, de um tom castanho-escurecido. Trajando vestes brancas, e batendo suas belas asas, o anjo rodeava algumas estrelas e a Lua... Mas, havia algo diferente. O anjinho não brilhara, como das ultimas vezes e parecia um pouco triste. Os rodeios tristonhos envolta dos astros durou muito, até que notou o menino. Rápidamente, o anjo se escondeu numa das nuvens mais fofas. Mas a sua curiosidade falava mais alto que seu senso de proteção, e assim, ele olhava, cauteloso, por entre as nuvens, afim de descobrir quem era o menino.

- Desça até aqui, anjinho - o menino disse aos Céus, sabendo que o anjo havia se escondido nas nuvens
- Eu? - A voz era de um tom feminino - Para quê desceria, menino? Essa Terra em qual vive só me traz tristeza! Só tenho desconfianças com vocês!
- Ora! Permita que eu mostre a você as coisas belas das Terras-abaixo-das-nuvens.
- Insisto... Para quê? Não há nada nessa Terra para mim, caro menino! Além disso... Não sei se conseguiria voar até as minhas nuvens novamente
- Como assim? - O menino perguntou, meio curioso - Você não conseguiria? Você voa todas as noites, anjo. Há diversas coisas para você aqui, anjinho. Desça até aqui e eu te mostro que a Terra é bela e que você voa tão bem quanto uma águia!

O Anjinho, meio desconfiado, desceu até a Terra. Pousou de um pé, suavemente, na grama. Ao sentir isso, o anjinho sorriu e deixou um "Que gostoso" escapar por entre a boca. Caminhou, devagar, até o menino, que enfim, notara a voz não era o único atributo feminino do anjo. Seu rosto belo, de menina moleca e garota menina, trazia um sorriso divertido e sincero, que fez o menino sentir-se em paz. Então, o garoto olhou para os olhos do anjo. Eram verdes. Verdes tão intensos e tão cintilantes, que o menino achou, por alguns instantes, que eles o cegariam.

Então, a criatura dos céus disse, com sua voz melodiosa: "Vim, e cá estou". O menino, pegou as mãos do anjinho, sentindo a sua pele aveludada, e disse: "Veio, e cá está. Então, mostrarei para ti que o mundo não é isso que você vê com os seus olhos, meu anjinho"

E os dois andaram por todos os cantos daquela Terra-abaixo-das-nuvens. Viram coisas que nunca pensaram ver, sentiram cheiros delicioso, ouviram sons diferentes, tocaram texturas inimagináveis, provaram sabores fascinantes. Após tanta andança... Os dois tornaram-se amigos.

Mas havia um problema: O Anjinho não tinha confiança nas suas asas, tão majestosas. Para ele, as asas eram pequenas como a de um pardal e de forma paradoxal, o menino via as asas como imponentes asas de águia.

- Não sei se consigo, menino - disse o anjinho, temeroso
- Ora! É claro que consegue, anjo. - O menio disse, segurando as mãos do anjo - Você consegue sim. É o melhor no que faz, tenho certeza disso.
- Já viste outros anjos voando?
- Não. E nem precisaria vê-los para saber que você voa melhor que todos eles juntos. Falo isso de coração, não por que quero te agradar. - E ele sorriu
- Tuas palavras são gentis, caro menino - O Anjinho retribuiu o sorriso - Transmitem paz de forma ímpar. Teu coração, apesar de ferido por dentro, é de ouro.

O menino não soube responder. Apenas ouvia-se o silêncio e o assobio agudo do vento.

- Só tenho a te agradecer, meu amigo, meu amor. Só tenho a te agradecer por todas as palavras belas. Você é o verdadeiro anjo aqui.

E o anjinho beijou as bochechas, agora coradas, do menino. Ele sorriu e levantou voo, lentamente. O menino, gritou:

- Eu não sou isso tudo, anjinho. Apenas vi um anjo tímido e triste, se escondendo nas nuvens... E decidi mostrar que ele era mais do que pensava.

O anjo sorriu, fez uma reverência e vou rápido, para o além-nuvens. O menino viu que o Céu estava feliz aquele dia: A Lua brilhando, as estrelas dançando e o anjo, voando.

E quem diria, que por trás daquele anjinho tímido, dos olhos profundos e sinceros, haveria uma amizade tão bonita?

- E quem diria que um dia, eu acharia uma das estrelas mais brilhantes da minha constelação? - Disse o menino, indo embora.

Dedicado ao meu anjinho.

2 comentários:

  1. Que post bonito. Você é um ótimo narrador. Deveria investir mais nisso. Gostei.

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  2. Muito bom!

    "Deveria investir mais nisso." [2]

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